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Queixada

Tayassu Pecari

Queixada: Biologia, Conservação e Perspectivas Futuras

Resumo

A queixada é uma das três espécies de queixadas (Tayassuidae), caracterizada pela faixa clara ao redor do focinho e pelagem escura, atingindo até 50 kg de peso e cerca de 1,2 m de comprimento.
Vive em grandes bandos—historicamente de até 1.000 indivíduos—que atravessam florestas tropicais, cerrados e manguezais desde o México até a Argentina.
Frugívora primária (60–80% de frutos e sementes), complementa a dieta com raízes, tubérculos e cipós conforme a sazonalidade.
A gestação dura cerca de 180 dias, com média de 1,6 filhotes por ninhada e maturidade sexual a partir de 1,5 anos.
Classificada como vulnerável na IUCN e listada no Apêndice I da CITES, sofre declínio populacional (>30% em 18 anos) devido à caça, perda de habitat e doenças.
Corredores ecológicos, unidades protegidas e fortalecimento de manejo comunitário são fundamentais para sua viabilidade futura.

 

1. Introdução

A queixada é uma peça-chave nos ecossistemas neotropicais, exercendo dupla função de dispersora de sementes e engenheira de solo ao abrir trilhas e mexer o estrato denso de folhas e raízes com suas fortes mandíbulas.
Sua extensa movimentação em grandes bandos cria “corredores” que facilitam o trânsito de outras espécies e contribuem para a regeneração pós-fogo e ciclagem de nutrientes.
Historicamente abundante em florestas úmidas da Amazônia e Mata Atlântica, em cerrados e até manguezais, a espécie também inspira mitos indígenas que celebram sua resistência ao fogo e astúcia para escapar de predadores.
Nas últimas décadas, a queixada sofreu forte redução de área de ocorrência e fragmentação de população.
Pesquisa do CITES aponta que sua distribuição abrange 17 países, mas com longos trechos sem registros recentes, sobretudo no México e na América Central.
A pressão por caça comercial de carne e couro, somada ao avanço agrícola e às epidemias regionais (principalmente febres hemorrágicas e peste suína africana), comprometeu bandos inteiros, exigindo intervenções urgentes.

Este artigo detalha aspectos de morfologia, ecologia, reprodução, estado de conservação, principais ameaças e estratégias de manejo, oferecendo subsídios para pesquisadores, gestores e comunidades que convivem com a queixada.

 

2. Classificação taxonômica

  • Reino: Animalia

  • Filo: Chordata

  • Classe: Mammalia

  • Ordem: Artiodactyla

  • Família: Tayassuidae

  • Gênero: Tayassu

  • Espécie: Tayassu pecari

  • Região nativa: México, América Central e maior parte da América do Sul, do leste do México ao norte da Argentina.

 

3. Morfologia, anatomia e melanismo

A queixada é semelhante a um porco, porém coberta por pelagem lisa e escura, exceto pela faixa branca ao redor do focinho que dá nome à espécie.
Pesando até 50 kg e medindo cerca de 1,2 m de comprimento (sem incluir a cauda curta), possui corpo robusto, patas curtas e mandíbulas fortes, capazes de arrancar raízes e rachar frutos secos.
Não há registros confiáveis de melanismo em T. pecari, e a variação de cor limita-se a tons de marrom escuro ou quase preto.

 

4. Distribuição geográfica e habitat

  • T. pecari historicamente ocorria em florestas tropicais úmidas, cerrados, mata de galeria e manguezais, do sul do México ao norte da Argentina.

  • Hoje, populações remanescentes se concentram em grandes áreas protegidas (e.g., Manú, Tambopata, Pantanal), mas grande parte do corredor Mesoamericano e da Mata Atlântica apresenta graves lacunas de distribuição.

  • Prefere ambientes de dossel fechado, mas utiliza clareiras e bordas de rio para forragear e termorregular, sempre próximo a fontes de água abundantes.

 

5. Comportamento e Hábitos

  • Vive em grandes bandos — de dezenas a centenas de indivíduos —, estratégia que reduz riscos de predação e otimiza a busca por alimentos sazonais.

  • Bando move-se em marcha coesa, comunicando-se por meio de guinchos, grunhidos e estalos de dentes, sinalizando posição e coesão de grupo.

  • É diurno em áreas pouco perturbadas, mas adota hábito crepuscular/ noturno em paisagens altamente caçadas.


6. Alimentação e Papel na Cadeia Alimentar

  • Frugívora dominante: frutos e sementes compõem 60–80% da dieta; complementa com raízes (até 79% em áreas secas), tubérculos (6%), sementes (14%) e pequenos cipós (1%).

  • Desempenha papel de dispersora de sementes de palmeiras-chave (e.g., Mauritia flexuosa, Euterpe edulis), moldando a regeneração de florestas.

  • Ao revirar o solo e depositar fezes ricas em matéria orgânica, contribui para a fertilidade e a estruturação do solo, beneficiando uma ampla rede de invertebrados e plantas.

 

7. Reprodução e ciclo de vida

  • Alcance sexual entre 1,5 e 2 anos; taxa de fêmeas grávidas ~40% ao ano.

  • Gestação de ~180 dias (162–180 dias observados em cativeiro), com média de 1,64–1,67 filhotes por ninhada.

  • Filhotes mamam por cerca de seis meses e acompanham a mãe no bando até atingirem independência, por volta de 12 meses.

 

8. Importância Ecológica e Impacto Ambiental

  • Como dispersora de sementes e engenheira de trilhas, mantém dinâmica de regeneração florestal e corredores de fauna.

  • Regula populações de plantas lenhosas e herbáceas, prevenindo o fechamento excessivo do dossel e favorecendo a diversidade vegetal.

 

9. Estado de conservação

  • Listada como Vulnerável pela IUCN, com queda populacional >30% em 18 anos.

  • Incluída no Apêndice I da CITES, refletindo risco elevado de comércio ilegal.

 

10. Ameaças e Desafios para a Conservação

  • Caça e comércio ilegal: carne e couro de fácil acesso a caçadores armados reduz bandos inteiros.

  • Perda e fragmentação de habitat: expansão agropecuária e infraestrutura interrompem corredores naturais.

  • Doenças emergentes: surtos de febre suína africana e peste suína clássica podem dizimar populações.

  • Mudanças climáticas: padrões de chuva alteram a disponibilidade de frutos e tubérculos, impactando ciclos reprodutivos.

 

11. Iniciativas e Estratégias de Conservação

  • Corredores ecológicos (Mesoamerican Biological Corridor): restauração de conectividade entre áreas protegidas.

  • Monitoramento remoto e foto trampas: mapeamento de uso de espaço e detecção precoce de declínios populacionais.

  • Patrulhas anti braconnage: esforços coordenados entre agências de conservação e comunidades locais.

  • Engajamento comunitário: programas de Seguro lavrador, ecoturismo de observação e capacitação em manejo sustentável.

 

12. Desafios Futuros e Perspectivas de Conservação

A manutenção de grandes bandos exige áreas contínuas de habitat e financiamento de longo prazo.
A aplicação de tecnologias emergentes (e.g., eDNA, drones) e a cooperação internacional serão fundamentais para monitorar tendências e fortalecer políticas de proteção.

 

13. Conclusão

A queixada simboliza a complexidade dos ecossistemas neotropicais, integrando funções de dispersão de sementes, formação de trilhas e regulação vegetal.
Sua conservação requer ações multidisciplinares que articulem ciência, políticas públicas e participação comunitária, garantindo corredores ecológicos e mitigando ameaças antrópicas para assegurar sua sobrevivência.

 

14. Curiosidades

  • Bandos históricos chegaram a reunir até 1 000 indivíduos em florestas da Amazônia.

  • A mordida da queixada é 1,3× mais forte que a do cateto, permitindo quebrar frutos duros e raízes.

  • Durante a estação seca, a dieta pode tornar-se majoritariamente de raízes (até 79%) para compensar escassez de frutos.

  • Produce guinchos e estalos de dentes audíveis a centenas de metros para manter a coesão do bando.

  • As fêmeas reproduzem-se durante todo o ano, mas há pico de nascimentos na estação chuvosa, quando os recursos se tornam mais abundantes.

 

 

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