BioVerso em Foco

  • Buscar por

  • Continente

  • Habitat

  • Classe

  • Conservação

  • Buscar por

Foca-de-peles-antártica

Arctocephalus gazella

 

Foca-de-peles-antártica:
Das Colônias Costeiras à Caçada Subaquática

 

Resumo

A foca-de-peles-antártica é uma otarídea de porte médio, com machos atingindo até 200 cm e 133 kg, e fêmeas cerca de 140 cm e 34 kg, exibindo forte dimorfismo sexual.
Quase 95 % da população global reproduz-se em Colônias de South Georgia, somando hoje cerca de 4 milhões de indivíduos, recuperados após a caça comercial do século XIX.
Alimenta-se principalmente de krill, peixes e lulas, mergulhando à noite e consumindo 3–4 kg de presa por dia durante a época reprodutiva.
A maturidade sexual ocorre por volta de 4 anos (machos) e 3 anos (fêmeas), com gestação de 65–70 dias e lactação de 4–6 meses, período no qual o filhote cresce aceleradamente bebendo até 10 kg de leite por dia.
Classificada como “menos preocupante” pela IUCN e listada no Apêndice II da CITES, enfrenta hoje ameaças de degradação de habitat, surtos de gripe aviária e mudanças na disponibilidade de krill decorrentes das alterações climáticas.

 

1. Introdução

A foca-de-peles-antártica, membro da subfamília Arctocephalinae, é única entre as otarídeas por formar densas colônias em ilhas subantárticas, exercendo papel de predador de topo em ecossistemas marinhos polares.
Historicamente, sua pelagem espessa foi alvo de intensa caça entre 1780 e 1850, levando-a quase à extinção.
Graças à proibição da caça e a acordos internacionais, essas populações recuperaram-se, tornando-a um exemplo marcante de restauração ecológica.
Durante seu ciclo de vida, alterna longos períodos de forrageio pelágico, onde mergulha até 200 m para capturar krill e peixes, com a permanência em terra para reprodução e mudança de pelagem.
A volta anual a colônias facilita estudos de marcação e monitoramento, permitindo avaliar tendências populacionais e variáveis reprodutivas em resposta a mudanças ambientais.

 

2. Classificação taxonômica

  • Reino: Animalia

  • Filo: Chordata

  • Classe: Mammalia

  • Ordem: Carnivora

  • Subordem: Caniformia

  • Família: Otariidae

  • Gênero: Arctocephalus

  • Espécie: Arctocephalus gazella Peters

  • Região nativa: Ilhas subantárticas (South Georgia, Crozet, Kerguelen, Macquarie, Bouvet, Heard, Marion, Sandwich e outras) e Península Antártica

 

3. Morfologia, anatomia e melanismo

O corpo fusiforme e pelagem densa e impermeável conferem isolamento térmico, já que as focas-de-peles não acumulam grande camada de gordura.
A cabeça é pontiaguda, com focinho relativamente curto e vibrissas longas (até 50 cm nos machos), usadas na detecção de presas.
As nadadeiras frontais são grandes e palmadas, permitindo propulsão ágil; a cauda muscular funciona como leme.
Não há casos documentados de melanismo; variações na coloração vão do castanho-escuro ao acinzentado, com padrão mais claro no ventre.

 

4. Distribuição geográfica e habitat

As principais colônias reprodutivas concentram-se em ilhas subantárticas: cerca de 95 % dos nascimentos ocorrem em South Georgia, onde a população total alcançou 4–6 milhões no período 1999–2000.
Populações menores ocorrem em Crozet, Kerguelen, Heard, Marion, Bouvet, Macquarie e ilhas Sandwich.
Fora da época de reprodução, indivíduos dispersam-se pela plataforma continental antártica, frequentando águas costeiras e fechadas por gelo sazonalmente.

 

5. Comportamento e Hábitos

As colônias reprodutivas estabelecem-se em praias de cascalho e penhascos suaves, onde os machos formam haréns defendidos com vocalizações e combates ritualizados.
Ouvem-se assobios, rosnados e latidos para comunicação intra espécie.
Fora da temporada de pupping, focas solitárias ou grupos mistos realizam longos deslocamentos navais em busca de alimento, permanecendo no mar por semanas entre as idas à costa.

 

6. Alimentação e Papel na Cadeia Alimentar

Carnívoras generalistas, alimentam-se principalmente de krill (Euphausiacea), peixes mesopelágicos e lulas, variando a dieta conforme a disponibilidade local e sazonal.
Como predadoras de médio porte, controlam densidades de krill e peixes júnior, influenciando cadeias tróficas que incluem aves marinhas, pinguins e outros mamíferos marinhos.

 

7. Reprodução e ciclo de vida

O cio ocorre em dezembro–janeiro; a gestação dura 65–70 dias, seguida de um período de ovo diapausa de cerca de 4 meses, culminando no pupping em setembro–outubro.
Cada fêmea gera um único filhote por ano, pesando 5–6 kg ao nascer, que é amamentado intensivamente por 4–6 meses, ganhando até 4 kg por dia.
A maturidade sexual chega aos 3–4 anos nas fêmeas e 4–5 anos nos machos.
Expectativa de vida na natureza: 15–20 anos.

 

8. Importância Ecológica e Impacto Ambiental

Como uma das espécies mais abundantes de pinnípedes antárticos, é bioindicadora da saúde do ecossistema marinho, refletindo a disponibilidade de krill e o estado do gelo marinho.
Suas fezes e carcaças enriquecem nutrientes costeiros, apoiando comunidades bentônicas e necrófagas.

 

9. Estado de conservação

Listado como “menos preocupante” pela IUCN e protegido pelo CITES Apêndice II, seus direitos são assegurados pelo Protocolo de Proteção aos Animais Marinhos da ATCM e pelo CCAMLR.
As populações cresceram de menos de 10.000 indivíduos ao início do século XX para milhões hoje, mas recentes declínios de fêmeas em South Georgia indicam novas perturbações.

 

10. Ameaças e Desafios para a Conservação

  • Mudanças climáticas: reduzem extensão de gelo e alteram disponibilidade de krill, impactando reprodução.

  • Eclosões de HPAI: surtos recentes de gripe aviária em colônias podem aumentar a mortalidade de filhotes.

  • Distúrbio humano: atividades de turismo e pesquisa provocam estresse e abandono de filhotes.

  • Poluição e poluentes persistentes: contaminantes orgânicos podem se bioacumular em mamíferos marinhos, afetando a saúde reprodutiva.

 

11. Iniciativas e Estratégias de Conservação

  • Monitoramento de colônias: censos anuais e análise de tendências por fotogrametria aérea e amostras genéticas.

  • Acordos internacionais: implementação do Protocolo de Madri e CCAMLR para zonas marinhas protegidas e regulamentação de turismo.

  • Estudos de dieta e ecologia trófica: pesquisa de isótopos estáveis e biomonitoramento via SCAR para avaliar mudanças no nicho alimentar.

  • Resposta a emergências: planos de ação para surtos de HPAI e derrames de óleo, coordenados por agências antárticas e ONGs.

 

12. Desafios Futuros e Perspectivas de Conservação

Manter a conectividade entre áreas de forrageio e colônias reprodutivas será crucial para resistir a eventos extremos.
A modelagem preditiva de habitat e a ampliação de áreas marinhas protegidas podem mitigar os efeitos das alterações ambientais e do turismo crescente.

 

13. Conclusão

A foca-de-peles-antártica simboliza tanto a fragilidade quanto a resiliência dos ecossistemas polares.
Sua recuperação histórica demonstra o poder das medidas de conservação, mas novas ameaças exigem vigilância contínua, ciência colaborativa e governança internacional para garantir seu futuro.

 

14. Curiosidades

  • Podes ser visto “roncando” em terra, mas embaixo d’água sua comunicação inclui cliques e estalos.

  • Há evidências genéticas de hibridização ocasional com foca-de-peles-subantártica em Macquarie Island.

  • Filhotes expostos à poluição por PCB podem apresentar taxas de crescimento reduzidas.

  • Cerca de 30 % das fêmeas em South Georgia não pariram em 2003–2012, indicando estresse alimentar.

  • São capazes de mergulhar mais de 200 m e permanecer submersas até 15 min em busca de alimento.

 

Pagina de Referências