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Anta-brasileira

Tapirus terrestris

Anta-brasileira: Engenheira dos
Mosaicos Florestais Neotropicais

Resumo

A anta-brasileira (Tapirus terrestris) é o maior mamífero terrestre brasileiro, atingindo até 1,8 m de comprimento e 225 kg de peso.
Sua longa gestação de 13–14 meses resulta em um único filhote, reforçando sua vulnerabilidade a perturbações.
Espécie solitária e predominantemente noturna, frequenta áreas alagadiças e margens de corpos d’água para se alimentar de frutos, folhas e brotos, podendo nadar com facilidade.
Funciona como dispersora primária de sementes, contribuindo para a regeneração de florestas e a manutenção da diversidade vegetal.
Classificada como Vulnerável em âmbito nacional e global, suas populações são fragmentadas e sofrem ameaças como perda de habitat, caça e atropelamentos, demandando ações de conservação integradas e adaptadas a cada bioma.


1. Introdução

Antiga linhagem de mamíferos perissodáctilos, a anta-brasileira compartilha ancestralidade com cavalos e rinocerontes e manteve características morfológicas estáveis por milhões de anos.
No Brasil, ocupa grandes extensões da Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica e remanescentes no Chaco até a fronteira com Argentina e Paraguai.
Seu papel ecológico abrange a disseminação de sementes de múltiplas espécies arbóreas e herbáceas, influenciando diretamente a estrutura e dinâmica de regeneração florestal.
Culturalmente, povos indígenas valorizaram sua carne e couro, enquanto hoje a espécie é símbolo de conservação, usada em campanhas de ecoturismo e educação ambiental.
Nos últimos 50 anos, a expansão agrícola, a construção de rodovias e o crescimento urbano fragmentaram populações, intensificando o risco de extinção local em biomas como Mata Atlântica e Cerrado.
Conhecer sua biologia, distribuição e ameaças é crucial para formular políticas e ações que garantam a persistência dessa espécie fundamental para os serviços ecossistêmicos neotropicais.

 

2. Classificação taxonômica

  • Filo: Chordata

  • Classe: Mammalia

  • Ordem: Perissodactyla

  • Família: Tapiridae

  • Gênero: Tapirus

  • Espécie: Tapirus terrestris

  • Subespécies reconhecidas:

    • T. t. terrestris (Venezuela, Guianas, Brasil central e nordeste da Argentina)

    • T. t. colombianus (norte da Colômbia e oeste da Venezuela)

    • T. t. rondoniensis (transição Amazônia–Cerrado)

    • T. t. tarijensis (sul da Bolívia)

  • Região nativa: América do Sul tropical e subtropical (11 países).

 

3. Morfologia, anatomia e Melanismo

A anta-brasileira apresenta corpo robusto, pelagem curta castanho-acinzentada e focinho alongado preênsil, adaptado para colher brotos e frutos.
Mede de 1,5 a 1,8 m de comprimento e cerca de 0,9 m de altura nos ombros, com peso variando entre 150 e 225 kg.
Possui quatro dedos com cascos nas patas dianteiras e três nas traseiras, o que facilita a locomoção em solo pantanoso.
Não há registros confiáveis de melanismo, mas casos de albinismo são extremamente raros, como o fotografado recentemente na Amazônia brasileira.

 

4. Distribuição geográfica e habitat

Ocorre em cinco grandes biomas brasileiros — Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga histórica — e em demais países da América do Sul, de planícies alagadiças a florestas estacionais.
Prefere áreas com disponibilidade de água para banho e alimentação, como margens de rios, pantanais e áreas inundáveis, mas também utiliza fragmentos florestais em ambientes degradados.
Populações estão fragmentadas, com maior densidade na Amazônia e Pantanal, e em declínio acentuado na Mata Atlântica e Cerrado.

 

5. Comportamento e Hábitos

Espécie majoritariamente solitária, mas ocasionalmente agrupa-se em pequenos agregados familiares para se alimentar.
É principalmente crepuscular e noturna, evitando o calor do dia, e utiliza o olfato apurado para detectar alimentos e predadores.
É excelente nadadora, cruzando rios e lagos sem esforço, e frequentemente wallows em lama para termorregulação e repelir ectoparasitas.

 

6. Alimentação e Papel na Cadeia Alimentar

Herbívora generalista, consome frutos, sementes, folhas, brotos e raízes de dezenas de espécies vegetais.
Estudos de meta barcoding de fezes revelam dieta diversificada, confirmando seu papel como dispersora primária de sementes e engenheira de ecossistema que contribui para a manutenção da diversidade vegetal.

 

7. Reprodução e ciclo de vida

A gestação dura 13–14 meses, culminando no nascimento de um único filhote que pesa cerca de 10–15 kg.
O período de amamentação pode durar até um ano, e os filhotes acompanham a mãe por 2–3 anos, quando atingem total independência.
A maturidade sexual ocorre entre 3 e 4 anos, e a longevidade em vida livre pode chegar a 30 anos.

 

8. Importância Ecológica e Impacto Ambiental

Como dispersora de sementes de plantas lenhosas e herbáceas, a anta-brasileira influencia a regeneração florestal e a heterogeneidade dos mosaicos vegetacionais.
Suas andanças contribuem para a ciclagem de nutrientes, pois excreções ricas fertilizam o solo e promovem a germinação de sementes em locais favoráveis.

 

9. Estado de conservação

Avaliada como Vulnerável (VU) pela IUCN (2001) e pelo ICMBio (2012) pelos critérios A2bcd + A3bcd.

Regionalmente:

  • Amazônia: Menos Preocupante (LC)

  • Mata Atlântica: Em Perigo (EN)

  • Cerrado: Em Perigo (EN)

  • Pantanal: Quase Ameaçada (NT)

  • Caatinga: Regionalmente Extinta (RE)

 

10. Ameaças e Desafios para a Conservação

  • Perda e fragmentação de habitat por conversão para agricultura e pecuária.

  • Caça ilegal e captura para subsistência e comércio de carne.

  • Atropelamentos em rodovias que cortam fragmentos de floresta.

  • Incêndios florestais e queimadas que destroem áreas de refúgio.

  • Doenças transmitidas por animais domésticos, impactando reprodução e sobrevivência.

 

11. Iniciativas e Estratégias de Conservação

  • Desenvolvimento e implementação de Planos de Ação Nacionais e regionais (PHVA) para a anta-brasileira.

  • Criação e expansão de unidades de conservação e corredores ecológicos para garantir conectividade de habitat.

  • Protocolos de reintrodução e translocação coordenados pelo ICMBio e parceiros.

  • Programas de educação ambiental e engajamento comunitário com populações indígenas e rurais.

  • Monitoramento de populações por métodos não invasivos e pesquisas ecológicas integradas.

 

12. Desafios Futuros e Perspectivas de Conservação

A intensificação das mudanças climáticas e a expansão de empreendimentos agrícolas demandam modelagem de habitat e planejamento adaptativo para manter a integridade genética e demográfica.
Ações futuras devem integrar representatividade biogeográfica, avaliar impactos de doenças emergentes e reforçar a participação de comunidades locais em estratégias de manejo das paisagens.

 

13. Conclusão

A anta-brasileira é fundamental para a configuração e dinâmica dos ecossistemas neotropicais, servindo como dispersora de sementes e engenheira de habitat.
Embora detenha estratégias de recuperação em várias regiões, enfrenta múltiplas ameaças que requerem abordagens regionais e colaborativas.
A sinergia entre ciência, políticas públicas e engajamento comunitário é essencial para assegurar a continuidade dessa espécie emblemática e os serviços ecossistêmicos que ela oferece.

 

14. Curiosidades

  • É considerada o maior mamífero terrestre do Brasil, superando até 300 kg em alguns indivíduos..

  • Pode nadar e atravessar rios de grande porte usando seu focinho como snorkel.

  • Seu focinho pré-ênsil funciona como uma mão, permitindo colher brotos e frutos inacessíveis a outros herbívoros.

  • Ocorrências de albinismo são raríssimas, com poucos registros documentados em campo.

  • Registros fósseis indicam que tapirídeos existiam na América do Sul há pelo menos 20 milhões de anos.

 

 

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